Esses tempos, um amigo recomendou um post do Ryan Holiday, “36 Books every young and wildly ambitious person should read”.
Este post, por mais clichê que possa parecer, me chamou a atenção por um livro em especial: “The Apprenticeship of Duddy Kravitz”. A minha sorte é que o filme, homônimo, estava disponível e completo no Youtube e o vi na mesma noite.
A obra canadense, do autor Mordecai Richler, conta a história de Duddy Kravitz, jovem judeu que está sempre cheio de afazeres, negócios, pra lá e pra cá, em busca de um objetivo geral. Seu avô, em certa altura da trama (exatamente na fotografia da capa deste artigo), diz:
“A man without a land is nobody”
E Duddy leva isso a sério — fará o que for preciso para conseguir seu pedaço de terra.
A novidade é: as coisas não acontecem conforme ele planejou e ao longo do tempo, o personagem principal está imerso em uma “bola de neve” de dívidas, afazeres e longe dos princípios éticos e morais para se chegar ao objetivo. Vai-se a ambição e fica a ganância. Vai-se o ser humano e fica um animal, um faz-tudo.
Ouso dizer que Duddy Kravitz hoje é a personificação de esmagadora maioria da juventude. A juventude que tem o mundo nas mãos, sonha alto e concretiza pouco ou quase nada.
Sonhar não custa nada (ou quase nada)
Toda ambição nasce de um sonho, e todo sonho nasce de um desejo.
E desejo, segundo a filosofia, pode ser definido como uma tendência em direção a um fim que seja uma fonte de satisfação.
Sendo assim, o sonho na maioria das vezes vêm de uma insatisfação vivida de forma positiva: “De alguma forma, dias melhores virão!”.
O grande problema é que a juventude cai num paradigma, onde a realização do sonho vai acontecer em um passe de mágica, como se não fôssemos feitos para batalhar, conquistar e vencer. Não estamos mais acostumados a renúncias e sacrifícios, desistimos de forma fácil.
“To dream your life is not to live it. You have the right to cling to a dream so that it will push you forward, but never to keep you from reality”. (Michel Quoist, “Reússir”, 1963)
A psicóloga americana Meg Jay escreveu uma obra interessantíssima chamada: “The Defining Decade” onde defende que a faixa dos 20 anos é o período da vida ideal para mudanças. Aos 35 anos os adultos são levados a continuar as ações iniciadas aos 20. “Trata-se de um período especial demais para não ser levado a sério”.
A juventude que parece ter o mundo nas mãos, parece correr atrás dos objetivos, muitas vezes acaba fazendo o contrário e perecendo. Que falta, então?
Foco + Ambição = Aspiração
No primeiro semestre tive a oportunidade de estar com dois grupos de jovens, que beiravam seus 20–30 anos, falando sobre Antropologia Teológica e a dinâmica do sentido da vida (quem já leu Viktor Frankl sabe do que falo).
Ao final, deixei um plano de ação como uma espécie de dever de casa, em que uma das questões era: “Onde quero estar daqui a 5 anos?”.
Pois faço a mesma pergunta a você: aonde quer estar?
No Brasil ou na Australia? Trabalhando em sua área ou experimentando uma mudança profissional? Sentado em um escritório ou trabalhando à distância, da praia? (…)
Pois, se pensarmos que daqui a 5 anos estaremos no cume da montanha, a subida se dará nos próximos anos, meses, semanas, dias e horas. Subir a montanha já é viver a experiência de estar no topo dela, por mais que aquela segunda-feira chuvosa possa parecer o contrário.
A arte do Essencialismo
Nunca consegui exprimir em palavras o dilema da ambição sem foco, ou a velha questão da juventude que não conclui os sonhos, até conhecer o livro “Essencialismo”, de Gregory McKeown.
O livro, na minha opinião uma obra-prima, vai além dos livros de auto-ajuda meia-boca que, por vezes, são pintados de best-seller nas livrarias. Já recomendei a todas as pessoas próximas, por acreditar que pode otimizar muito a vida da juventude e mais: conseguir dar o foco necessário com seus ensinamentos.
Eis algumas ideias expressas no livro, que me chamaram mais a atenção:
- A importância do não: “Só quando nos permitimos parar de tentar fazer tudo e deixar de dizer sim a todos é que conseguimos oferecer nossa contribuição máxima àquilo que realmente importa”.
- Não se pode fazer tudo: “O essencialista toma decisões únicas que resolvem mil decisões futuras”.
- Estabelecer prioridade é ter um norte: “Se não estabelecermos prioridade, alguém fará isso por nós”.
- Cuidar do armário da vida: “O essencialismo é a disciplina que aplicamos toda vez que precisamos tomar uma decisão e devemos escolher entre dizer sim ou recusar educadamente. É um método para abrir mão de muitas coisas boas, por mais difícil que seja, e ficar com as poucas coisas extraordinárias”.
- A diferença clara entre um essencialista e um não-essencialista: “Enquanto os não essencialistas se comprometem com tudo ou quase tudo sem examinar nada, os essencialistas exploram e avaliam sistematicamente um grande conjunto de alternativas antes de se comprometer com alguma delas.”
- Às vezes, não se pode fazer tudo: “Você já conviveu com alguém que está sempre tentando encaixar só mais uma coisinha nas 24 horas do dia? […] Sua lógica, que ignora a realidade de que para ganhar é preciso perder, é: dá para fazer as duas coisas. […] Inevitavelmente, eles chegam atrasados à reunião, perdem um ou ambos os prazos e ou não vão à festa do primo ou perdem o show.”
- Definição de foco: “Para ter foco é preciso escapar para criar o foco. […] Newton descobriu a lei da grativação universal ‘pensando continuamente’, ou seja, com exclusividade. Ele criava um espaço ininterrupto para a concentração intensa, o que lhe permitiu explorar os elementos essenciais do universo”.
- Vitórias e carreira: “O caminho do essencialismo trata-se de levar a vida com significado e propósito. Ao recordar a carreira e a vida, o que é melhor: ver um enorme rol de realizações sem nenhuma importância ou poucas realizações maiores com significado e importância reais?”
Interessante, não? Eis um livro que vale a pena ir atrás.
Para onde você quer ir?
O amanhã bate à porta.
Por que não revisitar aqueles sonhos estudantis, profissionais, ou mesmo hobbies, para que consigam ser realizados?
Recentemente um grande amigo completou o Iron Man: 3,8 km de natação; 180 km de ciclismo e 42 km de corrida, mas pasmem: algum dia, há não muito tempo, ele pulou pela primeira vez em muito tempo, em uma piscina; comprou uma bicicleta nova e correu seu primeiro km.
“Life is so short. I would rather sing one song than interpret the thousand.” (“the king”… Jack London)
Ninguém nasce para ser um Duddy Kravitz: tem a impressão de que muito faz, mas não faz absolutamente nada.
Foco! Ambição! Essencialismo! Para que nossa juventude aspire dias magníficos, afinal o futuro à ela pertence.