Este é o terceiro livro do grande Rubem Alves que posto aqui no Blog.
Os outros dois foram:
Como sempre, reflexões profundas sobre educação, professores, o formato da educação e especialmente a questão científica.
Afinal, como posso equilibrar “ciência” com o conhecimento que possuo, “sapiência”? Ou melhor explicando, a união entre ciência e arte; entre o científico e a beleza?
Seguem as melhores frases, abaixo:
- Manoel de Barros, no “Livro sobre nada”, diz: “Prefiro as máquinas que servem para não funcionar: quando cheias de areia, de formiga e musgo, elas podem um dia milagrar de flores. Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus. Senhor, eu tenho orgulho do imprestável”
- Não busco discípulos para comunicar-lhes saberes. Os saberes estão soltos por aí, para quem quiser. Busco discípulos para neles plantar minhas esperanças.
- O venerável Agostinho disse que um povo é um conjunto de pessoas unidas por um mesmo sonho. São os sonhos que fazem um povo. Mas sonhos não moram em argumentos ou razão. Sonhos moram nas imagens e na poesia.
- “Sermões e lógicas jamais convencem” dizia Whitman. “Só se convence fazendo sonhar”, dizia Bachelard.
- As pessoas não são movidas pela verdade; elas são movidas pela beleza.
- O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem.
- Chico Buarque na “Banda” fala que cada um estava concentrado em seu soninho, a namorada, o faroleiro, o homem rico… Cada um na sua, não havia povo. Mas aí passou uma banda, e o que ela tocava era tão bonito que os sonhos de cada um logo ficaram pequenos e foram esquecidos. Esquecidos os sonhinhos individuais, formou-se a procissão dos que seguiam o sonhão que a Banda tocava. Um povo nasceu.
- Tudo me espantava.
- É fácil identificar a pessoa cuja inteligência está enfeitiçada por uma palavra: ela só sabe dançar uma dança só. E quem só sabe jogar um jogo de linguagem fica burro. E chato. Porque a inteligência acontece precisamente nos saltos entre danças diferentes.
- Volto a Manoel de Barros: “A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá, mas não pode medir seus encantos”.
- Por vezes um poema, uma sonata, um quadro são mais importantes para a vida e a alegria que artefatos de saber e tecnologia. Precisamos dos dois: do conhecimento e da beleza. Mas a beleza não é científica.
- As inquisições se fazem com pessoas convictas. O Inquisidor não está interessado em ouvir as razões daquele que está sendo inquirido. Interessa-lhe uma coisa apenas: “As ideias dessa pessoa são iguais ou diferentes das minhas?” Se forem iguais, está absolvido. Se forem diferentes, vai para a fogueira.
- As pessoas normais brincam com muitos jogos de linguagem: jogos de amor, jogos de poder, jogos de saber, jogos de prazer, jogos de fazer, de brincar. Porque a vida não é uma coisa só. A vida é uma multidão de jogos acontecendo ao mesmo tempo, uns colidindo com os outros, das colisões surgindo faíscas. Uma cabeça ligada com a vida é um festival de jogos. E é isso que faz a inteligência.
- Herbert Mancuse escreveu um livro ao qual deu o título de “O homem unidimensional”. O homem unidimensional é o homem que se especializou numa única linguagem e vê o mundo somente por meio dela. Para ele o mundo é só aquilo que as redes de sua linguagem pegam. O resto é irreal.
- Não só os poetas: C. Wright Mills, um sociólogo sábio, comparou nossa civilização a uma galera que navega pelos mares. Os remadores do porão recebem remos novos a cada dia e sabem tudo sobre a ciência do remar, remam cada vez mais rápido. Mas perguntados sobre o porto de destino, respondem: “O porto não nos importa. O que importa é a velocidade com que navegamos”. Ou seja, em nossa civilização se multiplicam os meios técnicos e científicos, as mudanças são mais rápidas, mas não temos ideia alguma de “para onde” navegamos.