Ler Rubem Alves é sempre um prazer!
Falecido em 2014, o mineiro deixou um legado incomparável com obras sobre educação, espiritualidade e nossa existência.
Esse livro fala sobre sonhos, perdas e ganhos de forma sutil – faz rir e chorar.
Para quem ainda não conhece, Rubem Alves foi um filósofo, teólogo e escritor brasileiro que é considerado um importante pensador e intelectual em sua terra natal e em outras partes do mundo.
Ele foi conhecido por suas reflexões profundas e críticas sobre a sociedade, a religião e a educação, e por sua habilidade para expressar seus pensamentos de maneira acessível e comovente. Rubem Alves é relevante porque suas obras têm sido amplamente lidas e admiradas por muitas pessoas em todo o mundo, e porque ele tem sido um importante influenciador na área da educação e da reflexão filosófica. Ele também é conhecido por sua defesa da liberdade de expressão e por sua crítica ao dogmatismo e à intolerância em todas as suas formas.
Além disso, Rubem Alves é um defensor apaixonado da importância da educação e da criatividade, e trabalhou para promover uma educação mais inclusiva e transformadora em sua terra natal e em outras partes do mundo. Suas obras foram amplamente traduzidas e publicadas em vários idiomas.
Se deleitem com as grandes frases desse pensador incomparável, que recomendo bastante!
As melhores frases de “Se eu pudesse viver minha vida novamente”
- “Como é que o senhor planejou a sua vida para que chegasse aonde chegou?” Percebi logo. Ele me admirava. Queria ser como eu. Queria que eu lhe contasse o segredo. Que lhe revelasse o caminho. Mas minha resposta pôs a perder as suas expectativas. Foi isso que eu lhe disse: “Eu estou onde estou porque todos os meus planos deram errado”. Isso é absolutamente verdadeiro. As pontes que construía para chegar aonde eu queria ruíam uma após a outra. Eu era então obrigado a procurar caminhos não pensados. E aconteceu, por vezes, que nem mesmo segui, por vontade própria, os caminhos alternativos à minha frente. Escorreguei. A vida me empurrou. Fui literalmente obrigado a fazer o que não queria.
- Que mais posso desejar? Se eu pudesse viver minha vida novamente, eu a viveria como a vivi, porque estou feliz onde estou.
- Tudo o que escrevo é sempre uma meditação sobre mim mesmo.
- Eu mesmo sou o que sou pelos escritores que devorei… E, se escrevo, é na esperança de ser devorado pelos meus leitores.
- Assim canta a Adélia Prado, minha teóloga mais próxima: Louvado sejas, porque a vida é horrível, porque mais é o tempo que eu passo recolhendo os despojos […] mas limpo os olhos e o muco do meu nariz, por um canteiro de grama.
- Lembro-me de um poema de Bertold Brecht, a quem muito amo, em que ele diz: Que tempos são esses, quando falar de árvores é quase um crime pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?
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- Confissões, de santo Agostinho: Perguntei à terra […], perguntei ao mar e às profundezas, entre os animais viventes, às coisas que rastejam. […] Perguntei aos ventos que sopram, aos céus, ao sol, à lua, às estrelas […] e a todas as coisas que se encontram às portas da minha carne […]. Minha pergunta era o olhar com que as olhava. Sua resposta era a sua beleza.
- É por isso que poesia, como bem lembrou Guimarães Rosa, é essa irmã tão próxima da magia… Poesia é magia, feitiçaria… O feiticeiro é aquele que diz uma palavra e, pelo puro poder dessa palavra, sem o auxílio das mãos, o dito acontece. Deus é o feiticeiro-mor: falou e o universo foi criado. Os poetas são os aprendizes de feiticeiro.
- Sinto-me como Ravel, que, ao ver aproximar-se o fim, dizia, num lamento: “Mas há tantas músicas esperando ser escritas!”
- A razão para isso é simples. O próprio Nietzsche explicou: Ninguém consegue tirar das coisas, incluindo os livros, mais do que aquilo que ele já conhece. Pois aquilo a que alguém não pode chegar por meio da experiência, para isso ele não terá ouvidos.
- Criança não é meio para se chegar ao adulto. Criança é fim, o lugar aonde todo adulto deve chegar.
- ‘’ A maturidade de um homem consiste em encontrar de novo a seriedade que se tinha como criança, ao brincar…”
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- “Toda saudade é uma espécie de velhice”, disse o Riobaldo. É por isso que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências. “Memória fraca”, dizem os jovens. Engano: é que a sua alma sabe o que merece ser lembrado. Esquecem-se do que aconteceu ontem, mas se lembram do que aconteceu há muito tempo, como se fosse hoje.
- Mas a alma não sabe o que é isso, o não existir. Aquilo que é sentido existe. A alma é um lugar assombrado onde moram as mais estranhas criaturas que, sem existirem, existem.
- Para ser teólogo é preciso um pouco de loucura, pois Deus, quem quer que ele ou ela seja, não é um pássaro preso na gaiola da razão.
- Teologia ao redor do fogão: aquela que tem a coragem para penetrar nas intimidades da casa. Claro que ela é embaraçosa. Mas penso que esse é o único caminho para uma honestidade ecumênica. É preciso que nos assentemos juntos ao redor do fogo para ali falar sobre o fogo que queima dentro dos corpos que a sala de visitas congelou.
- O que a gente acumula é parte da gente–porque somente o amado é acumulado.
- A nossa vida começa justamente com o advento da inutilidade. Pois o momento da inutilidade marca o início da vida de gozo. Nada mais preciso fazer. Travei as batalhas que tinha de travar. Nada devo a ninguém. Estou livre agora para me entregar ao deleite.
- Faça o fantástico turismo gratuito dos livros. Você irá a tempos e lugares aonde avião algum pode chegar; ao Japão dos samurais; ao Macondo do Cem anos de solidão; ao mundo jagunço do Riobaldo; e poderá mesmo voar na passarela do padre Bartolomeu de Gusmão, com o Saramago. Para isso não é necessário dinheiro, só imaginação.
- Vamos! A vida é bela. Pare de namorar a morte! Beba a taça até o fim!
- É por isso que precisamos dos poetas. Pois eles são aqueles que tecem as suas palavras em volta do frágil fio que nos amarra sobre o abismo. Eles sabem que nos nossos corpos mora um adeus. Como dizia a Cecília Meireles: “Tudo em ti era uma ausência que se demorava: uma despedida pronta a cumprir-se”.
- “Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?” Ante o meu espanto sem palavras, ela acrescentou: “Mas não chore, não. Eu vou te abraçar…” Ela entendera que a dor da morte não é a dor do medo. É a dor da saudade. Imaginar a ausência das coisas que amamos: a cerca para ser consertada, a horta para ser cuidada, o aquário para ser limpo, os quadros a serem pendurados…
- Ah! A vida é bela! O mundo é belo! É por isso que toda despedida é triste. E é isso que eu sinto: que a morte é uma saudade sem remédio.
- Convidei-as, então, a entrar na minha máquina do tempo. Minha máquina do tempo é feita com memória e palavras. Entrando na memória, eu voo para o passado. Escrevendo as minhas memórias, eu levo outros a voar comigo.
- A velhice é quando se sai em busca do tempo perdido…
- Parafraseando Alberto Caeiro, digo que as crianças são de novo nascidas a cada momento para a eterna novidade do mundo: mundo sempre novo, diferente, surpreendente, fantástico, assombroso, incrível, desafiante. “Decifra-me ou te devoro!” E as crianças, como Édipo diante do desafio da Esfinge, se põem a decifrar o mundo…
- Meu filho Sérgio tinha três anos quando viu o mar pela primeira vez. Em silêncio ficou a contemplar o mar, as ondas se quebrando sem cessar. E me perguntou: “O que é que o mar faz quando a gente vai dormir?” Era-lhe incompreensível a eternidade do mar. Também me espanto e me pergunto, sem resposta: “Há quanto tempo o mar se quebra alisando a areia?” O mar, a praia, as conchas, o céu, os peixes invisíveis nas profundezas, as gaivotas em voo, me falam da eternidade. Senti-me retornado ao início do mundo: “Foi, desde sempre, o mar…”
- As montanhas de Minas com suas matas e cachoeiras, o mar em cima, porque O mar de Minas não é no mar. O mar de Minas é no céu, pro mundo olhar pra cima e navegar sem nunca ter um porto onde chegar.
- Disse a Adélia: “Aquilo que a memória amou fica eterno”. Talvez eu não precise me mudar para a Bahia porque ela sobrou dentro de mim…
- A Adélia diz que poesia é quando a gente olha para uma pedra e vê outra coisa. Como no famoso poema do Drummond: “No meio do caminho tinha uma pedra…”
- Sem boas qualidades físicas, as espirituais estruturam a minha vida…
- Vou transcrever um texto de Octávio Paz. É um dos meus textos favoritos. Por isso quero pedir que você o leia bem devagar. Contemple as vacas do presépio que ruminam sem pressa. Leia bovinamente, como quem rumina… Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim; todas as tardes nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado feito de tijolos e tempo urbano. De repente, num dia qualquer, a rua dá para um outro mundo, o jardim acaba de nascer, o muro fatigado se cobre de signos. Nunca os tínhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim: tanto e tão esmagadoramente reais. Não, isso que estamos vendo pela primeira vez, já havíamos visto antes. Em algum lugar, onde nunca estivemos, já estavam o muro, a rua, o jardim. E à surpresa segue-se a nostalgia. Parece que recordamos e quereríamos voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhadas por uma luz antiquíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer. Nós também somos de lá. Um sopro nos golpeia a fronte. Estamos encantados… Adivinhamos que somos de um outro mundo.
- Mas a literatura faz possível viajar por dentro sem ter de sair do lugar. Minhas maiores viagens, eu as fiz pela leitura. E o que sou tem muito a ver com o que li.
- Pois Thomas Mann, que escreveu o dito livro, inventou um diálogo entre José, cativo, e o mercador que o comprara. Diz José: “Estamos a não mais que um metro um do outro. No entanto, ao teu redor gira um universo do qual o centro és tu, e não eu. E ao meu redor gira um universo do qual o centro sou eu, e não tu”.
- Acho que o padre Antônio Vieira deveria ter acabado de ouvir uma estória bonita quando escreveu: “Se os olhos veem com amor o que não é, tem de ser”.
- Havíamos ido ao cinema ver o E.T. Minha filha, cinco anos, chorava convulsivamente ao voltar para casa. Depois do lanche, quis consolá-la das lágrimas que não paravam. “Vamos lá foraprocurar a estrelinha do E.T.!”, sugeri. Ela me acompanhou. Mas o céu se cobrira de nuvens. Não havia nenhuma estrela visível. Fiquei sem saber o que dizer. Improvisei, então. Corri para trás de uma árvore e disse: “Venha! O E.T. está aqui!” Ela parou de chorar, olhou-me séria e disse com voz firme: “Papai, não seja bobo.
- Manoel de Barros, rude poeta do Pantanal: “Tem mais presença em mim o que me falta”.