Estou escrevendo este post aos poucos, como um obituário especial a pessoas que partiram mais cedo na vida. Vou lembrando, atualizando, e tentando deixar a memória desses queridos amigos e amigas viva ao máximo enquanto os anos passam.
Vamos lá!
Otavio Augusto Bratnder
Pensem no pior time de futsal juvenil possível. Multiplique por 10, e terá o nosso time.
No ano do Cententário do Colégio Catarinense (2005) existiu um time além do Colegial. Era praticamente uma escolinha reunindo muito jogador de segundo escalão.
Esse time era corajosamente treinado pelo prof. Otávio (Tatá para os amigos). Alvo de piada por outros professores, Tatá insistia em tentar ensinar tática de futsal àquela turma. Pobre professor.

Já que era meu primeiro ano no Colégio, que diferia muito do que costumava viver nos anos anteriores, talvez tenha sido o professor mais próximo que tive. Colorado, como eu e um cara daqueles que era como um mentor.
Quase 20 anos depois, descobri na liderança um sentido para meu trabalho. Lidero times há alguns anos e devo muito disso ao professor Otávio. Nunca esqueço um dia que ele me deu a liberdade de escolher o tipo de treino: “E aí Lui, hoje vamos fazer o que?”. Me senti especial no alto dos meus quinze anos de vida.
Certa vez o time dos menores do Colegial nos desafiou para uma partida. Lembro que dei minha vida nesse amistoso e conseguimos ganhar, graças a Deus. A reputação agradece.

Pensa que 2005 ainda usávamos Orkut e MSN. As notícias eram bem mais demoradas. Pois me despedi provavelmente no fim de novembro do professor. Ano seguinte a escolinha não existia para mim no Ensino Médio, e tive menos contato com ele.
Só na volta das férias de 2006/07 soube do ocorrido: um câncer o pegou de surpresa. Descobriu jogando sinuca com a família e sentindo uma dor incomum. Não tive a chance de dar adeus.
Dizem que viu o Inter ser campeão do mundo do hospital. É nisso que gosto de acreditar.
Não consegui me despedir de meu professor
Aquelas tardes de 2005 naquela escolinha tiveram muita importância na minha vida muito por conta do professor, que deixa saudades até hoje. Obrigado, Tatá!
Antoracy (Panturrilha)
O ano era 2008, meu Terceirão no Colégio Catarinense. Um caro professor que tenho contato até hoje, Marquinhos da Silveira, me salvou de ser suspenso e conseguiu que eu jogasse a sonhada final de futebol de campo nas olimpíadas.
Semanas depois lá estava eu, de metido, indo rumo a Pinheiral (casa de campo do CC, em uma vila de Major Gercino/SC) para o chamado “Pinheiral das Olimpíadas”: um fim de semana de churrasco, pagode, cerveja em amigos.
Eu e dois membros do 3o ano estávamos de metidos no meio de professores e dos que colaboraram nas Olimpíadas, bem verdade, mas lembro que subi neste mesmo Pinheiral por anos a fio.
Uma figura que trazia cor a todo lugar que estava era certamente o Panturrilha. Tanto nesses Pinheirais épicos quanto em churrascos na Toca do Colégio, ou nas Dobradinhas do Noca, estava Panturrilha com seu cavaquinho, microfone e demais instrumentos distribuídos aos cervejeiros a seu redor.
Lembro até hoje de dezenas de músicas que faziam parte do repertório do “Pantu”, que sempre carregava 2 apostilas organizadas: uma para ele, outra para quem se aventurasse cantar no microfone depois de umas e outras.
Quer saber quais músicas? Ouça Fundo de Quintal, especialmente aquela fase de ouro de. 1991 (Programa Ensaio). O auge do samba, a meu ver.

Recordo alguns fatos sobre seu passado: fez um dos primeiros Cursos de Emaús em Florianópolis; jogou na base do Figueirense; morava na rua Arno Hoeschl; tinha filhas médicas (ex-alunas do CC, fato que justifica ele conhecer a turma toda) que residiam em São Paulo.
Após uma tarde divertida em um domingo de carnaval (foto acima), nosso amigo Taffarel nos deixou na Beiramar e me despedi do Pantú. Soube semanas depois que lutava/havia desistido de um câncer. Meses depois, a cidade ficou mais triste em seu velório que não teve samba – mas deveria.
Panturrilha foi um marco de uma época da minha vida que não volta mais, de uma Floripa de outrora. Até hoje ouço o ressoar do seu cavaco iniciando os trabalhos assim: “Sorri pra mim / porque preciso enganar a dor…”. Obrigado, Pantú!
Carlinhos Pessi
☆ 18/05/1944 – ✟ 02/02/2020

Em mais um dos diversos ensaios da Escola de Samba “Os Protegidos da Princesa” em 2010 (para o Carnaval 2011) conheci seu filho e hoje um grande amigo, Carlos Eduardo Pessi.
Achei curioso o fato de seu pai levar nos ensaios e nos ensaios permanecer.
Se tratava de um senhor de cabelos grisalhos (e sobrenome Grisard) que fui conhecendo pois descobri logo que meu problema de não ter carona pro ensaio estava parcialmente resolvido. A amizade com seu filho me fez conhecer mais dessa figura.

Carlinhos Pessi era fruto de uma Florianópolis diferente. Oriundo dos esportes e bailes do Lira Tênis Clube, jogava basquete e não recusava uma boa resenha com seus (milhares?) de amigos, das mais variadas origens. Não recusava uma cervejinha, e sempre me recebia com uma (ou mais) doses de cachaça.
Sabe o que senti? Era provavelmente o pai com mais idade de muito amigo meu, mas ao mesmo tempo o mais presente. Ele estava em todo lugar: da Bocaiúva à Praça XV; da Ressacada ao Beiramar Shopping; do Berbigão do Boca ao lado de fora do Bloco Sou+Eu. Digo isso pois um ano que esqueceram de ligar para ele, ficou do lado de fora apoiado tomando sua inseparável latinha, como que enlutado.
Em um Carnaval, saímos eu e Zinho (André Valerio) alterados do Bloco de Sujos em um trajeto de 2 quadras gritando o samba-enredo da Imperatriz de 87, para chegar ao esquenta do desfile da Protegidos na casa do Carlinhos. Chegamos ensopados por conta de uma chuva torrencial. Ele percebeu o estado do Zinho e teve a sutileza de cozinhar algo ou preparar alguma comida para o corpo voltar à alma (como sempre). Para mim, deu cachaça.
Em outro ano conseguimos fantasia do Salgueiro e partimos eu e seu filho para o aeroporto rumo à Sapucaí, claro que levados pelo “tio” Carlinhos, que me chamava de Lói. No caminho, advertências dele: “Vamos chegar atrasados!” E foi batata, quase perdemos o vôo. Não fosse pelo choro do seu filho a uma comissária, nunca teríamos entrado naquele avião.
E anos antes, num dia ocioso típico do nosso carnaval ilhéu, ligou para amigos diretamente do Clube Lira: “Venham pra cá, tá rolando a Linguiça do Carlinhos, tá uma loucura!”. E os amigos, um a um iam chegando para a confraternização fake que depois virou bloco de carnaval. Ele até desfilava pelas ruas do centro da cidade em um carro. Para mim, o último bloco romântico da cidade, com marchinhas, Brahma e choripan.
Carlinhos Pessi foi cedo. Resolveu descansar ao lado de sua amada. Seu velório foi praticamente um evento de marca maior que reuniu gerações de manezinhos.
Como bem escreveram sobre ele: “Existem pessoas que iluminam esta nossa passagem com um brilho, que sentimos imensa satisfação em estar ao lado delas.”. Sem mais.
Lembro-me dele cada vez que ouço “De Rosas e Coisas Amigas – João Nogueira”, por algum motivo, provavelmente por trazer sagrado no profano, coisa que boêmios antigos faziam com primazia.
Obrigado, “tio” Carlinhos.
Lucas Vieira Lisboa
☆ ? – ✟ 7-10-2010

Na nossa juventude, nunca estamos preparados para perder amigos que cresceram conosco, que nos acompanharam em anos tão importantes e imprevisíveis de nossas vidas.
Fiquei mais amigo do Lisboa lá por 2001. Ele era das turmas da tarde na 4a Série do CEMJ (Menino Jesus), mas o futsal nos uniu.
Em pouco tempo descobri que aquele cara cheio de energia era um cara muito legal. Queria estar em tudo, era metido (no bom sentido): na época que instalaram uma mesa de ping-pong chegava com uma raquete nova, por exemplo. Lisboa tinha o dom de se empolgar com a vida como poucos. Acho que Zininho se inspirou em uma figura parecida quando escreveu seu “Rancho de Amor à Vida”: “Viver, amar, sorrir, cantar (…) camisa aberta no peito, e no coração muito amor pra dar”.
Nessa época eu me preocupava com infantilidades, e o cara já se aventurava dando beijinhos em meninas por aí. Já que tinha o dom de ouvir, me ouvia por bons minutos falando das “dores”, como “aquele professor chato”. Quando chegava a hora dele, trazia: “Fiquei com fulana ontem”. Tipo, oi? Esse era nosso amigo.
Como se aventurava como goleiro, uma vez saltou bruscamente na pequena quadra do CEMJ e me atingiu sem intenção. Acho que nem liguei.
Dias depois ele com aquela maturidade não típica de um pré adolescente que às vezes parecia estar anos a frente, me chama para um lado e admite querer conversar um papo sério: queria pedir desculpas pelo ocorrido. Foi um dos momentos de amizade que mais me tocou – prova disso é lembrar com clareza mais de 20 anos depois.
Avaiano de carteirinha, achou em uma turma de amigos (Ian Konder, Gui e Dudu Capela, Diogo Quaresma, Pereira) sua galera definitiva. Fins de semana no antigo apto. do Quaresma eram narguile e diversão certas, antes ou depois de ElDivinos – e as vezes substituindo o próprio ElDivino.
Em 2010, um acidente de carro em inesperado o levou a um coma e o anjo e amigo não resistiu. Apenas 19 anos! Meu amigo não viveu os “20 e poucos anos”, sua formatura no Jornalismo, o início da vida adulta, nada. Deveria ter vivido, merecia.
Como eu gostaria de conversar com o Lisboa de hoje! Entrar na mente deste cara, evoluído. Mas recordo de Galvão Bueno que disse preferir lembrar de Senna no auge. Lembro daquelas noites jogando conversa fora sobre a vida no alto de nossos 13 anos, e daria muito para saborear de novo aqueles momentos. No Céu, é certo que muitos saboreiam.
Até um dia, se Deus permitir, meu grande amigo Lisboa.
Thiago Lolato Silva
O ano era 2004, 7a série do Ensino Fundamental. Ou seria um ano antes? Agora a memória me pegou.
Só lembro chegar na sala de aula um sujeito magro, branco demais e na dele, chamado Thiago.
Chamei ele na rua quando vi que estava indo pro Yazigi (inglês) dentro do colégio – o que nos tornou colegas nas manhãs e tardes daquele longo ano.
Por trás de um cara estranho, morava um dos caras mais engraçados que tive a honra de conhecer. Satírico, ácido, repleto de um humor a lá South Park, tive que descascar Thiago para realmente o conhecer. E logo que o fiz, comentei com meu grande amigo Daniel: esse cara é hilário.
Lembro de longas conversas de MSN com o Thiago. De dar oi o xingando (coisa de menino). Reclamar de professores. Na internet sinto que ele se soltava, e adorava jogar os jogos de época como Counter Strike e uns RPGs (coisa que eu passava longe).
Eu lembro de pensar já na época: por ter amigos como o Thiago, a vida é menos chata. 2004 foi um ano péssimo em termos de colégio.
Mesmo em colégios diferentes (ele, Energia; eu CC) costumávamos nos encontrar ou manter a amizade virtual. Por muitos anos, falei com Thiago literalmente diariamente.
Tinha seu apelido de internet: Dest (Destruct), algo que era comum na época.
Sabíamos que tinha alguns problemas em casa, e já nessa época frequentava psicólogas e coisas do tipo que estavam muito longe do nosso entendimento inocente. Para algumas pessoas a vida é mais complexa desde muito tempo.
Uma viagem que me marcou no colégio certamente foi em Minas Gerais. Conhecemos cidades históricas, passeamos por lugares que eu só ouvia no disc-man entoados por Milton Nascimento e seu Clube da Esquina. Quando lembro do Thiago, lembro disso.
Inúmeras noites passamos no Hause Lanches, local certeiro para jovens sem grana trocarem ideias bebendo uma gelada e comendo X Burgueres. E fazíamos um jogo: “Se tivesses 1 opção, qual seria? Ficar invisível; teletransporte ou voltar ao tempo?”. E ficávamos horas e horas, quase se engalfinhando para defender cada resposta.
Thiago, certo dia de 2011 não mais viu sentido em viver e resolveu encerrar por ali sua breve passagem. Não foi totalmente inesperado, mas sempre me vêm a mente: “Podia ter acolhido mais!”. A última frase que falei pra ele, na frente do atual restaurante “Famiglia Tagliari” quando ambos voltavam de um UFSC Semi-Direto foi: “Vamos marcar aquele Hause!”. Mas esse dia não chegou.
Um ano antes eu havia conhecido um sentido para a vida no Movimento Católico de Emaús, e se pudesse voltar ao tempo teria o chamado para o retiro. Imagino que aceitaria, e que poderia ter mudado o rumo das coisas.
De qualquer forma, foi uma honra ter feito parte da vida desse cara. Desejo de coração que todos tenham um amigo do peito como foi o Thiago e que possam estar próximos o bastante para ajudar essa pessoa quando necessário.
Obrigado, Thiago!
Guilherme Gomez (Polaco)
Meu primeiro, ou um dos primeiros amigos. Até hoje quando entro no CEMJ (Centro Educacional Menino Jesus) para deixar a minha filha, lembro dos momentos juntos no parquinho.
Cresci indo a casa e recebendo esse cara, na época era o “Gomez” ainda. Quando entro no Catarinense já era o “Polaco”, apelido adquirido na adolescência.
Por vivermos numa Ilha, é impossível estar muito distante, então enquanto crescíamos estávamos direta ou indiretamente unidos, se encontrando aqui e acolá, inclusive no dia de seu falecimento em que ele deveria nos encontrar na casa de um amigo.

Escrevi no dia seguinte a seu falecimento uma lista de coisas que lembro dele, e deixo aqui como lembrança e homenagem a um cara que tanto amei, a um grande amigo:
-Polaco é a única criança que conheci que tomava café com leite desde os 5 anos
-Seu desenho preferido era “Os 12 Trabalhos de Asterix”, o qual tinha uma fita gravada do Cartoon
-Torceu para todos os times de futebol do Brasil antes de adotar o Avaí (inclusive, Tabajara Futebol Clube, após comprar uma camisa do Camelódromo), mas seu time na Argentina era o Rosario Central, por influência do pai, argentino
-Na infância, sua mãe não o achou na hora de buscá-lo. Ele havia resolvido dormir dentro de um cano que fazia parte dos brinquedos do CEMJ
-As garagens da famosa “Rua Sem Saída” que morou muitos anos, viravam goleiras de futebol da raça, até algum porteiro vir expulsar (diariamente)

-Na infância um de seus castigos era ficar sem mouse (mas continuava usando o computador escondido pois descobriu atalhos no teclado)
-Ele no CEMJ era Gómez, e ganhou o apelido de Polaco somente no CC, na 5a série
-Durante o 2o ano do ensino médio, foi a Pinheiral e fez cocô numa sacola de supermercado dentro do quarto, de madrugada
-Na noite seguinte, se perdeu durante a brincadeira de Caça ao Tesouro. Quando ouvimos o grito dele, descobriu-se que estava na vila do outro lado do lago, não mais dentro do terreno do colégio (segundo ele, pegou o atalho do antigo cemitério indígena por algum motivo desconhecido)
-Chegava ou na Brava ou no Zinga via trilha ou a pé de lugares muito distantes, mesmo que pudesse optar por ônibus
-Invadiu o Folianópolis pulando e quase foi entrevistado pelo repórter Oscar Filho, do CQC
-Tinha amizades variadas: do Cacai do Avaí no antigo Manéca, até um amigo frequentador de festas em Jurerê
-Era autêntico e verdadeiro mas não preconceituoso: qualquer lugar era lugar de ser feliz, aonde ou com quem estivesse
Saudades, Polaquinho.
Lédio João Martins
Lerejohn como era conhecido, conheci só no Colégio Catarinense.

Amigo um pouco revoltado, meio rebelde mas que era um grande amigo a seus amigos. Sempre queria estar junto, olhava no olho, perguntava como estavam as coisas. Era um cara único e especial e no fundo no fundo um cara delicado que dentro daquela carcaça de skatista trazia certa melancolia, certa inquietação.
Lembro que ele queria sempre estar cercado de amigos, não queria que acabasse, parecia não querer voltar a “real” – seja lá o que isso significasse. Era um menino em conflito.
Sinto falta de encontrá-lo, de ver ele envelhecendo, conquistando seu espaço, achando seu caminho por aqui. Resolveu achar em outro lugar e espero e rezo que esteja bem onde estiver pois tem muito amor e saudade dos amigos que ficam.
Valeu, Lédio!
Geninho Correa
Na juventude, há pais de amigos que temos certo medo ou indiferença, e há pais que são ídolos. Geninho era esse segundo tipo para mim.
Um dos precursores do surf na Ilha, Geninho era daqueles Manezinhos cheio de história pra contar, “camisa aberta no peito, e no coração muito amor pra dar”.

Até hoje é muito estranha a ideia de que nunca mais vou cruzar com ele nas ruas dessa cidade, na Rua Duarte Schutel, em alguma Missa, no mercado, na padaria… Existe uma lacuna deixada por ele que sinto ser difícil sanar, talvez por ter pego todos de surpresa com sua partida.
Estava sempre dando algum conselho, uma diretriz, sentia que estava sempre ligado. Paizão.
Encontrei ele dias antes de partir, onde me confidenciou estar pensando em fazer uma nova pranchinha pra sua nova fase de vida, após uma cirurgia. É surf na veia e com certeza agora pegando aaaaltas no Céu.
Valeu mô pombo.
Pe. Vitor Feller
Sobre o Padre Vitor, escrevi um texto próprio que deixo o link aqui.
Em eterna construção.
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