Já tinha ouvido muito falar de “Sidarta” mas confesso que resolvi ler após um Podcast recente de Alvaro Sochair com Leo Kuba.
Achei bem diferente de tudo que já tinha lido. Foi bom entender elementos da espiritualidade budista e como conseguem ter o dom da contemplação e sabedoria e da velha lição de que precisamos colecionar tesouros na alma, e não materiais.
Valeu a pena a leitura, apesar de não ter se tornado um dos livros preferidos. Seguem as melhores frases que apontei do livro Sidarta:
À sombra da casa , ao sol da ribeira , perto dos barcos , na penumbra do salgueiral , ao pé da figueira , criou – se Sidarta
Assim todos amavam Sidarta . A todos causava ele alegrias . Para todos , era fonte de prazer . Mas a si mesmo , Sidarta não se dava alegria .
Que versos maravilhosos ! “ Tua alma é o mundo inteiro ” — rezava um deles e estava escrito que o homem durante o sono , o sono profundo , entrava no próprio âmago e habitava o Átman .
— Com a vossa permissão , meu pai . . . Vim dizer – vos que é meu desejo abandonar amanhã esta casa e encaminhar – me aos ascetas . Almejo tornar – me um samana . Oxalá meu pai não se oponha à minha intenção . O brâmane manteve – se calado e assim ficou por tanto tempo que na janelinha as estrelas mudaram de posição , tomando outro aspecto , antes que o silêncio que pairava na salinha chegasse a seu fim . Silencioso , imóvel , de braços cruzados , conservava – se o filho ; silencioso , imóvel , conservava – se o pai na esteira ; e as estrelas singravam pelo céu .
O pai colocou a mão no ombro do filho . — Hás de embrenhar – te no mato — disse — para que possas ser um samana . Se encontrares a felicidade no mato , volta e ensina – me .
Um único objetivo surgia diante de Sidarta ; o objetivo de tornar – se vazio , vazio de sede , vazio de desejos , vazio de sonhos , vazio de alegria e de pesar . Exterminar – se distanciando – se de si mesmo ; cessar de ser um eu ; encontrar sossego , após ter evacuado o coração ; abrir – se ao milagre , com o pensamento desindividualizado — eis o que era o seu propósito .
Os samanas ensinavam muita coisa a Sidarta e ele aprendia numerosos métodos de separar – se do eu . Trilhava a senda da desindividualização , através da dor , através do tormento voluntário e do triunfo sobre o sofrimento , sobre a fome , a sede , o cansaço . Desindividualizava – se , mediante a meditação , tirando do seu espírito toda e qualquer representação , até deixá – lo vazio .
Aprendia a percorrer esse e outros caminhos , saindo inúmeras vezes do próprio eu e conservando – se no não eu , horas e dias a fio .
O que é a meditação ? O que é o abandono do corpo ? Que significa o jejum ? E a suspensão do fôlego ? São modos de fugirmos de nós mesmos . São momentos durante os quais o homem escapa à tortura de seu eu . Fazem – nos esquecer , passageiramente , o sofrimento e a insensatez da vida .
alcançou – os por estranhos caminhos e desvios uma nova , um boato , um mito , a afirmar que acabava de surgir uma pessoa de nome Gotama , o Sublime , o Buda , aquele que dominara em si mesmo o sofrimento do mundo e fizera parar a roda das ressurreições .
Assim caminhava Gotama , rumo à cidade , para pedir esmolas e os dois samanas identificavam – no unicamente pela perfeição da serenidade , pela calma da aparência , que não deixava perceber nem ambição , nem vontade , nem arremedo , nem esforço , senão apenas luz e paz .
Clara e branda , a voz pairava por cima dos ouvintes , como uma luz , como um firmamento estrelado .
Olhou o mundo a seu redor , como se o enxergasse pela primeira vez . Belo era o mundo ! Era variado , era surpreendente e enigmático ! Lá , o azul ; acolá , o amarelo ! O céu a flutuar e o rio a correr , o mato a eriçar – se e a serra também ! Tudo lindo , tudo misterioso e mágico ! E no centro de tudo isso achava – se ele , Sidarta , a caminho de si próprio . Todas essas coisas , esses azuis , amarelos , rios , matos , penetravam nele pela primeira vez , através dos seus olhos .
SEGUNDA PARTE
Tudo isso existira em todos os tempos , e todavia escapara a Sidarta . Ele não estivera presente . Nesse instante , porém , estava presente , fazia parte dos acontecimentos . Pelos seus olhos passavam luzes e sombras . Os astros e a lua entravam no seu coração .
Cada um pode ser feiticeiro . Todas as pessoas são capazes de alcançar os seus objetivos , desde que saibam pensar , esperar , jejuar .
“ Escrever é bom . Pensar é melhor . A inteligência é boa . A paciência é melhor . ”
Por muito tempo , Sidarta ia vivendo a vida do mundo e dos prazeres , sem todavia pertencer a ela .
O rio opunha – se a eles e o balseiro tinha a incumbência de ajudá – los a vencer o mais depressa possível o obstáculo . Mas houve alguns entre esses milhares , uns poucos , quatro ou cinco talvez , para os quais o rio cessou de ser um estorvo . Escutaram a sua voz , prestaram atenção ao que ele dizia , e o rio tornou – se – lhes sagrado , assim como chegou a ser para mim .
Dia a dia , o seu sorriso assemelhava – se mais ao do balseiro , chegando , quase , a irradiar a mesma luminosidade , a resplandecer de quase igual ventura , a luzir , tal e qual o do companheiro , através de milhares de ruguinhas ; era o sorriso de uma criança e de um ancião também . Muitos viajores , ao avistarem os dois balseiros , tomavam – nos por irmãos .
Luminosamente resplandecia o sorriso do balseiro , pairando por cima das inúmeras rugas do semblante idoso , assim como o Om pairava por cima de todas as vozes do rio . Luminosamente resplandecia o seu sorriso enquanto fitava o amigo e com igual clareza luzia no rosto de Sidarta o mesmo sorriso . Sua ferida desabrochava como uma flor . Sua mágoa fulgia . Seu eu incorporara – se na unidade . Foi nessa hora que Sidarta cessou de lutar contra o Destino . Cessou de sofrer . No seu rosto florescia aquela serenidade do saber , à qual já não se opunha nenhuma vontade , que conhece a perfeição , que está de acordo com o rio dos acontecimentos e o curso da vida ; a serenidade que torna suas as penas e as ditas de todos , entregue à corrente , pertencente à unidade .
Dirijo – me à selva . Busco a unidade — respondeu Vasudeva , radiante . E radiante se foi . Sidarta acompanhou – o com o olhar , e nos seus olhos havia infinita alegria , infinita gravidade , enquanto observava o andar calmo , a cabeça aureolada , o vulto envolvido em luz .
Quando alguém procura muito — explicou Sidarta — pode facilmente acontecer que seus olhos se concentrem exclusivamente no objeto procurado e que ele fique incapaz de achar o que quer que seja , tornando – se inacessível a tudo e a qualquer coisa porque sempre só pensa naquele objeto , e porque tem uma meta , que o obceca inteiramente . Procurar significa : ter uma meta . Mas achar significa : estar livre , abrir – se a tudo , não ter meta alguma . Pode ser que tu , ó Venerável , sejas realmente um buscador , já que , no afã de te aproximares da tua meta , não enxergas certas coisas que se encontram bem perto dos teus olhos .
a sabedoria não pode ser comunicada . A sabedoria que um sábio quiser transmitir sempre cheirará a tolice .
Os conhecimentos podem ser transmitidos , mas nunca a sabedoria . Podemos achá – la ; podemos vivê – la ; podemos consentir em que ela nos norteie ; podemos fazer milagres através dela . Mas não nos é dado pronunciá – la e ensiná – la .
tenho para mim que o amor é o que há de mais importante no mundo . Analisar o mundo , explicá – lo , menosprezá – lo , talvez caiba aos grandes pensadores . Mas a mim me interessa exclusivamente que eu seja capaz de amar o mundo , de não sentir desprezo por ele , de não odiar nem a ele nem a mim mesmo , de contemplar a ele , a mim , a todas as criaturas com amor , admiração e reverência .