Tive a honra de ler este livro algumas vezes ao longo dos últimos anos.
Marcelo, ou Marcelinho Câmara, foi um jovem que viveu aqui em Florianópolis. Um filho, aluno, amigo, depois profissional, professor, concursado (Promotor de Justiça) – se parasse por aí já estaria bom.
Mas Marcelinho era mais. Teve um encontro com Jesus Cristo em um retiro da Igreja Católica, no Movimento de Emaús, e sua vida nunca mais foi a mesma.
Deixou este mundo em 2008 mas era tão especial, tão diferente, tão humilde que possivelmente será -algum dia- declarado Santo pela Igreja Católica. No momento, foi aberto processo de Beatificação do Servo de Deus, um dos primeiros passos para a Santidade ser confirmada.
Que honra poder ter Marcelinho Câmara como um exemplo a ser seguido, por mais que não o tenha conhecido, e por mais que sua santidade pareça inalcançável. Mas como citou a autora, querida Maria Zoê: “Sempre é tempo de recomeçar”.
Segue o link para o site com mais informações; o livro completo, e abaixo as melhores frases:
- Quando pegou o rumo para a “aldeia de Emaús” não imaginou que naquele caminho encontraria Alguém capaz de mudar sua existência por toda a Eternidade…
- Murilo Cârama, irmão: “Continuo sentindo demais a presença dele, principalmente nos meus erros”
- Maria Helena Pavan: “Ainda adolescente, lembro-me quando algumas vezes ele me convidava para apanhar ‘a fresca da tarde’ – era assim que ele se expressava – no jardim de entrada de sua casa para a gente conversar um pouco; imagine quantas pessoas no mundo atual convidariam outras pessoas para conversar e se deliciar com a fresca da tarde. Esse era o Marcelo”
- Marcelo Câmara sobre a experiência no retiro de Emaús: “Isto se deve, fundamentalmente, às palavras que pude escutar em uma determinada manhã a respeito da pessoa de Jesus Cristo. Aquele Homem, que era então um estranho, revelava-se de par em par, de minuto a minuto, como sentido da minha vida, fundamento da minha existência. Posso afirmar que sentei na sala de palestras como um jovem avesso às Missas, e levantei-me um adulto pela felicíssima maturidade que as palavras ouvidas, tão evidentemente verdadeiras, trouxeram ao meu ser, à minha pessoa”.
- Ainda Marcelinho sobre Emaús: “Tudo, à luz de Cristo, parecia tão diferente, mais belo, mais cordial, mais pleno de significado. Era tudo tão simples! Dali em diante bastava seguir Aquele que me foi anunciado. Nas quedas, Ele me acolheria; nos progressos, Ele aumentaria em mim a graça da Sua Santa Presença, tanto espiritual como eucarística.”
Manoel de Queiroz: “E sempre sobrava um pouco mais de Cristo em cada um de nós depois de falar com ele [Marcelinho]”
- Aqui nos cabe uma reflexão: até onde estamos dispostos a ir, o que estamos dispostos a prescindir, para aumentar em nós a vida da graça? O que nos move? Quais as nossas razões de viver?
- Foi então que ouvi Marcelo conversando com uns amigos no bar da faculdade: ‘Jesus Cristo é a pessoa mais importante para mim’, disse ele em alto tom. Aquelas palavras, tão claras e convictas, me atingiram profundamente. Como um jovem poderia dizer que Deus, a quem ele não vê, seria a pessoa mais importante da sua vida?
- Oportuno registrar uma mensagem de e-mail que ele enviou ao amigo Fernando Wolf, respondendo a um questionamento sobre o limo: “De fato, Deus ligou a salvação ao sacramento do batismo, entretanto, o próprio Deus não se encontra “preso” aos seus sacramentos, vias ordinárias da graça. A graça é Dele, e seus caminhos são misteriosos”
- Marcelo soube encontrar o olhar de Nossa Senhora por detrás da simples e aparente repetição de frases. Um desafio para nossos tempos é forçoso admitir, já que somos atraídos pelo imediato, pelo visual, pela novidade. Precisamos redescobrir o terço como a oração que nos ensina a aprender Cristo de Maria, a configurar-se a Cristo com Maria, a suplicar a Cristo com Maria e a anunciar a Cristo com Maria.
Da mãe, Leatrice Pavan: “A religiosidade dele era muito aplicada, vivida na prática do dia-a-dia, concreta. É muito fácil alguém se dizer cristão, ir na Igreja, rezar, ter o momento de oração na Missa, mas ser uma pessoa que critica, que julga, pensa e fala mal dos outros. Ele não, ele vivia a fé completamente. Não julgava, não criticava.”
- Andre Ghiggi: “Ligar para ele era um verdadeiro deleite, atendia com um entusiasmo que fazia os amigos se sentirem verdadeiras celebridades: ‘Nossa, que alegria falar com você! Tudo bem! Sensacional você me ligar! Ganhei o dia em receber a tua ligação’, esse era o padrão… A gentileza dele praticamente irradiava pelos buraquinhos do telefone.”
- Santidade e humildade são realidades condicionantes. A verdadeira humildade leva à santidade, e não pode haver verdadeira santidade sem humildade. Santa Teresa de Calcutá, a “Santa das Sarjetas” nos ensina que ‘a humildade é o começo da santidade’.
- Klaus Raupp: “Hoje, rogo a Deus, por sua intercessão, para que a aumente em mim. Como que a ouvir as mesmas palavras dele, que ainda ecoam em meus ouvidos, mas de um modo levemente diferente: ‘Amigo, tu te permites adorar um pouquinho?`”.
Marcelo se preocupava verdadeiramente com a formação integral dos seus alunos. Sua atuação não se limitava ao ensino dos conteúdos jurídicos e nem mesmo à sala de aula. Descobri que dava carona aos alunos, ocasião em que aproveitava para conversar sobre suas vidas. Aproveitava, também, os intervalos de aula para interagir com seus pupilos. Tinha interesse real pelo bem de cada um.
- Terezinha Weber: “Fiquei tão feliz e então lhe perguntei: `Marcelo, o que fazer para agradar plenamente a Deus e não deixar a tentação fazer a gente pecar?’ Ele sorriu e rezou o Santo Anjo do Senhor em latim. Depois disse que bastava rezar para o Anjo da Guarda porque ele foi enviado para nos livrar das tentações e perigos. No outro dia quando cheguei ao trabalho tinha recebido sua mensagem com o Santo Anjo do Senhor em latim. Chorei emocionada. Este menino, sim porque era ainda um menino quando foi embora, deixou para as pessoas que trabalhavam na biblioteca do Ministério Público a grandeza de agradecer sempre a Deus as oportunidades, como também os momentos difíceis, porque é com os difíceis que nos purificamos e ficamos dignos dos desígnios de Deus.”
- Do pai, Rica Câmara: “Num sábado logo após a sua admissão como Promotor, em 2007, mesmo ele estando depauperado pela doença, disse que ia almoçar rápido porque a sua mesa de trabalho estava tão cheia que não conseguia ver quem sentava a sua frente e precisava ir dar uma ‘limpada’ nos processos. E ele foi lá para Vara Criminal de São José para dar uma baixa nos processos. Consciência profissional. Poderia dizer, acabou meu expediente, estou aqui somente há alguns dias, mas não, foi trabalhar no sábado à tarde.”
- Mas de fato o termo “santidade” ainda causa espanto em muita gente, sobretudo quando se pretende aplicá-lo a um cristão leigo comum, um jovem da atualidade que não precisou retirar-se do mundo em um mosteiro ou empreender uma tarefa missionária em um país distante (ainda que tais atitudes sejam louváveis). A passagem dos discípulos de Emaús tem muito a contribuir para a pedagogia desta santidade revolucionária, mostrando que temos dificuldades em reconhecer o Cristo que passa ao nosso lado, justamente por esperarmos uma manifestação grandiosa, incomum, ou até mesmo, mágica.
Marcelinho encontrou o tesouro escondido na vida cotidiana.
- Sempre é tempo de recomeçar.