“Silicon Valley”, do HBO, foi uma das séries mais incríveis que já vi na vida.
Tempos atrás tinha visto outra série chamada “Startup” (Netflix), que foi para um lado “empreendedores em Miami afundados em falsidade e problemas com a máfia russa” e sinceramente fugiu um pouco do que estou acostumado a ver na vida em tecnologia.
Não que a história de “Startup” não possa ser real, mas esse seriado poderia facilmente ter se chamado: “Mentiras em Miami” e estaria de bom tamanho.
De qualquer forma, para um fissurado em tecnologia, Startups e Venture Capital como eu, “Silicon Valley” foi um prato cheio – e olha que demorei quase uma década para descobrir esse seriado (de 2013), não sei como.
Em resumo, “Silicon Valley” conta a história de alguns nerds (Richard e seus colegas) que criam uma Startup chamada Pied Piper e sofrem com as dores do crescimento.
A história, o enredo e os personagens são interessantíssimos e tendo finalizado a 6a e última temporada afirmo: este seriado é uma grande sátira do mundo de tecnologia. Uma paródia muito bem contada e divertida que não só serve para nos fazer rir, mas ao contrário de “Startup”, “Silicon Valley” pode ajudar leigos a se aproximarem mais de como é realmente a loucura da vida em tecnologia, os lados bons e ruins.
Portanto separei 7 fatos do seriado que serviram de reflexão para mim, e compartilho com vocês.
Esse post não contém spoilers, apenas se aprofunda em algumas histórias da série.
1.Muitas vezes exageremos no conto de fadas de uma Startup
Em um certo episódio, o amigo de Richard conta que sua Startup estava indo muito bem.
No próximo momento, a sós, este amigo se oferece para uma vaga de emprego na Pied Piper já que na verdade sua Startup estava morrendo!
Ops, algo de errado não está certo.
Em vagas de emprego, palestras, e pelo Linkedin é comum vermos as expressões:
-Estamos crescendo
-Somos a próxima [NOME DE UMA EMPRESA TECH FAMOSA]
-Estamos voando
-Ninguém nos segura
-E tantas outras deste tipo
Claro que é dever do empreendedor ir até o fim. Se nem ele acredita, quem acreditará? Mas as vezes é demais! Especialmente quando a Startup não está com esta bola toda.
-Será que não poderíamos ajustar os discursos?
-Será que não poderíamos ser mais realistas?
-Custaria tentar nos aproximarmos da realidade, sem prejudicar nossa Startup?
São perguntas que ficam.
Fake it until you make it, mas não fake it tanto assim.
2.Precisamos celebrar vitórias quando tivermos 100% de certeza
Quantas vezes no seriado vimos os personagens, da Pied Piper ou outras Startups estourando um champagne antes do tempo?
Quantas vezes, em vez de comemorar com “contrato assinado” ou “com uma confirmação”, eles se antecipam e usam da emoção para celebrar vitórias – e infelizmente se enganam porque não estava tudo 100% como achavam?
Isso é muito real!
- Uma boa reunião de negociação não necessariamente significa que a venda foi feita
- Um ótimo papo com um VC que demonstra interesse não quer dizer que isso está fechado – ou que vai ser bom pra vocês
Celebremos em Startups quando tivermos mais certeza das coisas. Os times claramente sofrem um abalo emocional quando descobrem que não era como imaginavam ou que algo “100% certo”, na verdade estava longe disso.
Por essas e outras, o seriado é uma montanha russa de emoções. O que na vida real poderia ser prejudicial para a cabeça dos startupeiros em questão.
3.Investidores só são bem sucedidos quando sua Startup cre$ce
As minhas 2 personagens preferidas de “Silicon Valley” trabalhavam em Venture Capital.
Laurie e Monica, vividas por Suzanne Cryer (a moça do episódio “Yada yada yada, de Seinfeld”) e Amanda Crew.
Se elas trabalham com capital de risco é porque esperam, ao menos de uma parcela das investidas, grande retorno.
E ao contrário de muitos empreendedores que acham que o retorno dos investimentos também se dá em: bons momentos, amizade, palestras, eventos, elogios, vinhos em um respeitado restaurante da cidade, o retorno é financeiro ou não é nada. E fim de papo.
Investidores sofrem pressão para retornar o dinheiro que lhes foi confiado, ao qual depositaram em Startups, e por mais que a relação esteja ótima, todos nós startupeiros seremos cobrados com o que foi alinhado no contrato com os investidores. E ponto final!
As reviravoltas das duas personagens citadas, no seriado “Silicon Valley” são muitas, mas com certeza vale a pena ver e ir percebendo esse viés comentado.
Nota: para empreendedores que desejam conseguir capital de investimento para sua Startup, “Silicon Valley” é conteúdo obrigatório. É questão de finalizar as 6 temporadas e ter uma noção muito melhor do que pode estar por vir, na vida real.
4.Existe muito investidor que não faz a mínima ideia do que está fazendo
Russ Hannemann.
Esse personagem é fundamental na história, pois salvou a startup Pied Piper algumas vezes com um dinheiro que fez a diferença.
Mas o cara é um maluco completo!
O enredo conta que há muitos anos atrás foi o responsável por imputar o rádio (FM, AM) na internet. E isso o deixou bilionário.
As decisões que ele toma, quando investe na Pied Piper lá no começo, são completamente fora da casinha, por exemplo, investir em outdoors com uma propaganda que não fazia o menor sentido, mais confundindo a marca Pied Piper que gerando ROI.
Dentro da grande paródia que é esta série, este com certeza é um personagem que gera muitas risadas.
Em certo momento ele apoia uma garrafa da tequila que produz, “3 Commas”, num botão de “Delete” e deleta boa parte do código da Pied Piper. Coisa que só pode acontecer em seriado, mas mesmo assim um momento inesquecível no enredo.
5.Existem pessoas que só atrapalham o crescimento da Startup e a entrega do time
Jian Yang.
O chinês que atua no seriado como se fosse um mosquito.
Quase imperceptível num quarto escuro, mas absolutamente insuportável caso esteja em volta da gente. E o cara fica na vida dos personagens até o final!
O personagem (que por curiosidade é o mesmo nome do ator) mora na incubadora onde a Pied Piper iniciou e nunca faz a mínima ideia do projeto que está trabalhando.
Certa vez ele acha que construiu um aplicativo que filmava alimentos e trazia todas as propriedades do alimento, algo que poderia servir para a indústria de saúde e alimentícia. Mas na verdade seu aplicativo só funcionava com cachorros quentes.
Cortar, demitir, afastar RAPIDAMENTE pessoas que só atrapalham é a melhor coisa que podemos fazer para ganhar tempo. Não faz sentido ter no entorno pessoas que não vão fazer a Startup ir do ponto 1 para o ponto 2.
E não se iluda: algumas vezes o Jian Yang de sua Startup pode ser aquela contratação estratégica, uma liderança, que não entrega os resultados há meses, e sempre lhe é dado uma colher de chá a mais.
Enfim, ri muito com Jian Yang, um dos personagens mais engraçados de Silicon Valley.
6.Ter sócios que complementem nossas habilidades nos faz crescer
Jared Dunn.
Um ator que já havia visto como o chato da firma, em “The Office” (versão americana) e cumpre aqui o papel de alguém que deixou a empresa maioral, Hooli e seu excêntrico fundador Gavin Belson para se unir a Pied Piper, até então uma startup dentro de uma incubadora em uma casa.
E desde então foi braço direito de Richard na maior parte do seriado. Trazia palavras de alento, tomava boas decisões como financeiro e depois COO e com certeza foi um ponto de equilíbrio ao lidar com outros sócios desenvolvedores e nerds que não tinham muita noção de como se relacionar com pessoas.
Definitivamente se não fosse ele, a Pied Piper não teria crescido tanto pois duvido que algum dos personagens nerds teria a mínima noção do crescimento de uma Startup.
Por essas e outras, meu ídolo Naval Ravikant escreveu: “Aprenda a vender. Aprenda a construir. Se você puder fazer as duas coisas, você será imparável.” (vale a pena ler outras frases dele aqui).
Em outras palavras, os nerds de “Silicon Valley” construíram, Jared Dunn ajudou com o resto, enquanto Richard foi um pouco de tudo, e ao mesmo tempo, muito de nada.
Complementariedade de funções: o grande segredo.
7.Muitas vezes um empreendedor de Startups vai precisar tomar decisões éticas
Joio e trigo.
Bem e mal.
Certo e errado.
A série basicamente é pautada em grandes decisões relacionadas a ética. A dados. A histórias que nos lembram muito bem o verdadeiro Vale do Silício. A problemas e dores de cabeça que Mark Zuckerberg, Jeff Bezos e Larry Page já tiveram.
Aprendemos que a ética e o compromisso por um mundo melhor faz muito mais sentido que ser bem sucedido ou que dinheiro, e esse tipo de escolha é mostrada incessantemente. Faz-nos refletir.
Só não posso aprofundar esse tópico para não dar spoiler. Parei por aqui.
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Conclusão
Recomendo a você empreendedor, candidato a entrar no universo de tecnologia, investidor, ou curioso a assistir “Silicon Valley”. Você vai aprender e se divertir ao mesmo tempo.
Depois me conta o que achou!
Até a próxima 🙂