Constância: um padrão entre os campeões do WCT

Pipeline, 18 de dezembro de 2017.

Faltando 5min para o fim da bateria, o garoto de Maresias, Gabriel Medina precisa de uma nota 7.07 para virar a bateria em cima do veterano francês, Jeremy Flores para seguir vivo na busca do título.

As mudanças do mar neste começo da tarde em Oahu, Hawaii, interferem nas ondas que simplesmente não aparecem…

E acaba o tempo: mais uma vez Medina bate na trave e põe a cabeça em 2018.

Me pergunto, então:

  • Existe um padrão entre os campeões do WCT? Algo que todos tenham passado/feito e que lhes garantiu o título? Se sim, o que é?

Pedindo socorro aos dados

Desde que trabalho na área de Vendas, percebo que ser guiado por dados é um dos pontos mais importantes para startups que querem crescer de forma previsível e escalável.

Saber o que tem dado certo, e o que tem dado errado; o que poderia melhorar de um mês para o outro e quais insights tirar dos dados compilados se tornam pontos cruciais rumo a resultados de sucesso. Como diria um ex-chefe: “Que vendas seja cada vez mais uma ‘máquina de salsicha’!”

Com o fim do ano no WCT (World Championship Tour) de Surf e o Bi-Campeonato de John John Florence, escrevo um post que permita ler o surf de maneira diferente: baseado em dados.

Antes de tudo, se você não acompanha ou tem ideia de como funciona o WCT, sugiro a leitura desse post de 2015, mas que pode ilustrar bem para os leigos.

Procurando um padrão entre os campeões

Desde que li a famosa autobiografia do mestre Kelly Slater, 11x campeão Mundial do WCT, finalista de 79 etapas no tour e vencedor de 55 delas, tive a impressão que os campeões eram definidos a partir de resultados no primeiro semestre (ou se preferir, até a metade das etapas do Tour), com a premissa:

“Maioria dos vencedores do WCT fizeram um primeiro semestre melhor, garantindo tranquilidade a partir de uma quantidade de pontos conquistada”.

No ano de 1994 eu tinha apenas 3 anos, mas os registros confirmam. O Careca (como é conhecido) fez um primeiro semestre impecável! 4 finais em 6 eventos, e durante o ano inteiro sendo campeão em: Bell’s, Lacanau e Pipeline.

Mas isso não se torna um padrão quando pensamos em dados. Dos 11 títulos de Kelly no CT, ele fez uma primeira “metade” (ou primeiro semestre) melhor em 5 deles.

Na tabela a seguir, todas as colocações do Careca nos anos de títulos. (Veja em melhor resolução clicando aqui.)

Observações:

1-Em verde, quando foi 1º, 2º, 3º ou 5º colocado.

Em amarelo, quando foi 9º colocado.

Em vermelho, quando foi de 13º a 33º colocado (ou não participou da bateria/estava machucado).

2-Para os anos que tiveram baterias “ímpares”, considero duas vezes a bateria do “meio” (se tem 11 baterias, a 6 é a “do meio”) para trazer dados justos

Ok, estou convencido que não existe consistência ou fórmula mágica na leitura por semestres.

Isso me levou a fazer uma pergunta relevante para tentarmos chegar em algum lugar:

“Quantos vencedores de CT garantiram o título antes da última etapa?”

Apurando esses dados desde 1992 (primeiro título do Kelly) chegamos a seguinte resposta:

1992 | Kelly campeão com 1 etapa de antecipação
1993 | Derek Ho campeão na última etapa
1994 | Kelly campeão com 1 etapa de antecipação
1995 | Kelly campeão na última etapa
1996 | Kelly campeão com 2 etapas de antecipação
1997 | Kelly campeão com 2 etapas de antecipação
1998 | Kelly campeão na última etapa
1999 | Occy campeão com 1 etapa de antecipação
2000 | Sunny campeão com 1 etapa de antecipação
2001 | CJ campeão na última etapa
2002 | Andy campeão com 1 etapa de antecipação
2003 | Andy campeão na última etapa
2004 | Andy campeão com 1 etapa de antecipação
2005 | Kelly campeão com 1 etapa de antecipação
2006 | Kelly campeão com 2 etapas de antecipação
2007 | Mick campeão com 1 etapa de antecipação
2008 | Kelly campeão com 2 etapas de antecipação
2009 | Mick campeão na última etapa
2010 | Kelly campeão com 1 etapa de antecipação
2011 | Kelly campeão com 1 etapa de antecipação
2012 | Parko campeão na última etapa
2013 | Mick campeão na última etapa
2014 | Medina campeão na última etapa
2015 | Mineiro campeão na última etapa
2016 | John John campeão com 1 etapa de antecipação
2017 | John John campeão na última etapa

Ou seja,

4 campeões com 2 etapas de antecipação
11 campeões com 1 etapa de antecipação
11 campeões na última etapa

Ainda assim, não fiquei satisfeito. Pensei que precisávamos de um padrão relacionado aos campeões de cada ano, algo que fosse certeiro e unânime.

Foi aí que, apurando os dados de todos os anos do Kelly e dos campeões de 2011 até 2017 percebi algo interessante: todos eles possuíam uma sequência de bons resultados (1º, 2º, 3º, 5º lugar no mínimo) a ser observada.

A essa sequência, chamo aqui de Sequência de Ouro (veja em melhor resolução clicando aqui):

*Ex: Mineiro, sempre esforçado, iniciou 2015 mandando muito bem na perna Australiana (três primeiras etapas) fazendo sua Sequência de Ouro que garantiu o título conquistado no fim do ano. Já que hoje contamos com 2 descartes (2 piores notas do ano, que não entram no somatório), ele administrou os pontos para se sagrar campeão na última etapa daquele ano, em Pipeline.

Sendo assim, minha premissa trouxe um padrão claro:

“Cada surfista campeão tem uma Sequência de Ouro, de 3 a 7 bons resultados (durante o Tour) que representam a maior fatia dos pontos que garantem seu título. Nenhum outro surfista faz uma sequência que pontue tanto quanto eles no mesmo ano.”

Constância, constância, constância!

Isso parece meio óbvio: surfista que se coloca bem, vence o campeonato de “pontos corridos” do ano. Mas o diferencial é a sequência, a qual traduzo como constância.

O dicionário informal traz constância como: “[…] que tem estabilidade funcional, que cumpre procedimentos regulares sem nenhuma alteração, ou quase nenhuma, transmitindo segurança e confiança, proporcionando o desenvolvimento de tarefas sensíveis a alterações de todas as ordens, com excelente desempenho.”

Sendo assim, notamos que um surfista pode inclusive vencer o CT sem vencer nenhuma etapa: basta se manter no topo em sua própria Sequência de Ouro.

Como? Aí entra a parte complicada: elementos físicos; psicológicos; treinamento; a vida fora do mar; conhecer o pico; foco; dentre tantos outros.

Sem dúvida, o CT de 2018 conta com muitas estrelas. Ninguém é imbatível e tem muita gente querendo despontar e se sagrar campeão. O diferencial é se manter em cima.

E o ano novo está chegando…

Como foi o seu ano profissional? Sentiu que teve uma sequência de dias, semanas ou meses que você despontou e trouxe mais resultados?

Se sim: qual foi sua Sequência de Ouro? Como você atingiu? (lembre-se que a resposta pode vir com pontos simples como: boas noites de sono, cuidado com a saúde e alimentação, mais energia, etc.)

Como escrevo dentro do mundo de startups, que dividem seu tempo por trimestre (quarter, em inglês), que nosso primeiro trimestre seja incrível, e que traga constância para que signifique uma grande virada para o resto do ano.

Que vençamos nossos próprios CT’s!

Abraços e feliz 2018 🙂

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