“Só Pode Ser Brincadeira, Sr. Feynman!” – Frases de Livros

Minha porta de entrada para o universo de Richard Feynman.

Sempre ouvi falar que um antigo ´físico americano irreverente e engraçado era um cara para se acompanhar. Resolvi então ver algumas aulas, chamadas “lectures” que constam no Youtube e fiquei fascinado.

Este livro é o relato de dezenas de causos de Feynman, muitos quase inacreditáveis, outros divertidos, outros tristes ou felizes. Um livro de primeira que recomendo.

As melhores frases que destaquei são:

Eu me lembro muito bem do exato momento em que me encantei por Richard Feynman . Estava com um amigo , de férias em Santa Barbara . Aprender é um das minhas formas favoritas de relaxar , por isso fomos à biblioteca da universidade local para dar uma olhada em alguns rolos de filme ( isso foi em meados dos anos 1980 ) , o que incluiu as famosas Feynman’s Lectures , as palestras que ele deu em Cornell .

A seguir , ainda sorrindo , falava – nos da física , usando diagramas e equações para nos ajudar a partilhar de seu conhecimento . Não era nenhuma piada secreta que provocava o sorriso e o brilho em seus olhos . Era a física . A alegria da física ! Aquela alegria era contagiante . Que sorte tivemos , aqueles de nós que contraíram essa infecção . Agora é a oportunidade de vocês , leitores , serem expostos à alegria da vida ao estilo de Feynman . Albert R . Hibbs

O rádio era de uma amiga de minha mãe , por isso eu tinha tempo . Não havia ninguém atrás de mim perguntando : “ O que você está fazendo ? ” Em vez disso , as pessoas me diziam : “ Quer um copo de leite , ou um pedaço de bolo ? ” Por fim , consegui consertar o rádio , porque eu era , e ainda sou , persistente . Se me deparo com um enigma , não consigo deixá – lo de lado . Se a amiga de minha mãe tivesse dito qualquer coisa como “ Esqueça isso , é muito complicado ” , eu teria ficado furioso , porque , depois de chegar até ali , eu queria derrotar aquela coisa . Não poderia largar o serviço pela metade após ter descoberto tanto . Tinha de ir até o fim e descobrir qual era o problema .

Às vezes , quando eu não achava uma maneira simples de resolver uma coisa , dava voltas até conseguir . Em outras ocasiões , meu caminho era muito hábil — a demonstração convencional do livro era muito mais complicada ! Assim , às vezes eu vencia o livro , outras vezes acontecia o contrário .

Eu achava meus símbolos tão bons quanto os normais , se não melhores ; não fazia diferença alguma você usar este ou aquele símbolo — porém mais tarde descobri que fazia diferença , sim . Certa vez , quando estava explicando alguma coisa a outro garoto no colégio , comecei a usar aqueles meus símbolos , e ele perguntou : “ Que diabos são essas coisas ? ” Nesse dia percebi que , se ia falar de matemática com outras pessoas , teria de usar os símbolos convencionais , assim acabei pondo de lado meus próprios símbolos .

Havia coisas de que eu não gostava , como essa história de gorjetas . Eu achava que devíamos ganhar mais em vez de contar com gorjetas . Mas , quando falei sobre isso com a chefe , só escutei risadas . Ela disse a todos : “ Richard não quer ganhar gorjetas , hahaha . Ele não quer as gorjetas , hahaha . ” O mundo está cheio dessa gente metida a engraçadinha , que não sabe de nada .

Tentei explicar — ela era minha tia — que não havia nenhum motivo para não se fazer aquilo , mas não se pode dizer isso a uma pessoa inteligente , que dirige um hotel ! Aprendi que a inovação é muito difícil de aplicar no mundo real .

Não entendo qual é o problema com as pessoas : elas não aprendem por compreensão , mas de alguma outra forma — por memorização ou algo assim . O conhecimento delas é tão frágil !

Passado algum tempo , admiti novamente ter sido o culpado pela retirada da porta e todos me acusaram de mentiroso . Ninguém lembrava o que eu tinha dito . Só lembravam da conclusão a que tinham chegado depois que o presidente da fraternidade rodeou a mesa , fazendo a mesma pergunta a cada um : ninguém admitia ter tirado a porta . Lembravam – se da ideia , mas não das palavras . É comum as pessoas me considerarem um embusteiro , mas normalmente eu sou honesto , de certa forma — de uma forma que muitas vezes faz as pessoas não acreditarem em mim !

Um dos motivos pelos quais eu gostava de observar meus sonhos era a curiosidade de saber como é possível ver , de olhos fechados , uma imagem — de uma pessoa , por exemplo . Alguém dirá que se trata de descargas nervosas aleatórias e irregulares , mas , quando estamos dormindo , o sistema nervoso não tem como gerar imagens com os mesmos detalhes sutis de quando estamos despertos olhando para alguma coisa . Nesse caso , como eu conseguia “ ver ” em cores e com detalhes mais vivos quando dormia ? Concluí que , sem dúvida , devia haver um “ departamento de interpretação ” . Quando estamos olhando realmente alguma coisa — uma pessoa , uma luminária ou uma parede — , não avistamos apenas manchas de cores . Alguma coisa nos diz de que se trata ; o que é visto precisa ser interpretado . Quando sonhamos , o departamento de interpretação continua a funcionar , mas de forma pantanosa . Ele nos informa que estamos vendo uma cabeleira humana de maneira incrivelmente detalhada , mas isso não é verdade . Ele está interpretando o lixo aleatório que chega ao cérebro como uma imagem clara .

É como um nova – iorquino vê Nova York : esquece o resto do país . E embora nesse lugar não se adquira uma boa noção de proporção , ganha – se uma excelente noção de estar nele e com ele , além de motivação e desejo de seguir em frente — a sensação de ter sido especialmente escolhido e ter a sorte de estar ali . Portanto , o MIT era bom , mas Slater estava certo ao recomendar outra escola para minha pós – graduação . E sempre aconselho meus alunos da mesma forma . Aprenda como é o resto do mundo . A variedade vale a pena .

Quando chegou a hora de dar minha palestra sobre o tema , comecei por desenhar o contorno de um gato e nomear seus diversos músculos . Os demais alunos me interromperam : — Já sabemos de tudo isso ! — Ah , é ? — perguntei . — Sabem mesmo ? Então não é de estranhar que eu seja capaz de alcançá – los tão depressa depois de terem estudado quatro anos de biologia . Eles tinham perdido tempo decorando coisas como aquelas , que podiam ser encontradas em quinze minutos .

Já o trabalho sobre bacteriófagos , acabei por jamais redigi – lo — Edgar insistiu para que o escrevesse , mas nunca o retomei . Esse é o problema de trabalhar num campo que não é o seu : você não leva a coisa a sério .

Estou sempre fazendo isso : me meto em alguma coisa e vejo até onde posso chegar . Aprendi muita coisa em biologia e ganhei muita experiência . Melhorei na pronúncia das palavras , aprendi o que incluir ou não em um artigo ou seminário e a detectar uma técnica deficiente num experimento . Mas adoro física e quero voltar a ela .

Mas então deu – se um milagre , como aconteceu repetidamente em minha vida , o que é uma sorte para mim : no momento em que começo a pensar em física e tenho de me concentrar no que estou explicando , nada mais ocupa minha mente — fico imune ao nervosismo . Assim , depois que comecei , já não sabia quem estava na sala . Estava só explicando a ideia e nada mais .

Era assim que eu ganhava sempre . Se meu palpite era de que estava certo , ótimo . Mas , se eu achava que estava errado , sempre conseguia encontrar alguma coisa errada na simplificação que eles faziam . Na verdade , havia alguma qualidade autêntica em meus palpites . Eu tinha um esquema , que ainda uso quando tentam me explicar alguma coisa que estou tentando entender : imagino exemplos . No caso dos matemáticos , eles iam elaborar um teorema tenebroso e estavam todos agitados . Enquanto me explicavam as condições do teorema , eu elaborava um exemplo que preenchia todas as condições . Sabe como é , você tem um conjunto ( uma bola ) — disjunto ( duas bolas ) . Na minha cabeça , as bolas se transformam em cores , nascem – lhe pelos ou qualquer outra coisa , à medida que eles põem mais condições . Por fim eles enunciam o teorema , alguma coisa boba sobre a bola que não se aplica à minha bola verde cabeluda , então digo : “ Falso ! ”

Aquele livro me ensinou também a diferenciar parâmetros na integral — é uma operação certa . Acontece que ela não é muito ensinada nas universidades , não tem nenhuma ênfase . Mas aprendi a usá – la e usei repetidamente essa ótima ferramenta . Como me tornei autodidata em relação à matéria do livro , tinha meus métodos peculiares de usar integrais . Quando os caras do MIT ou de Princeton tinham problemas com alguma integral , era porque não conseguiam resolvê – la com os métodos convencionais que tinham aprendido na escola . Esse era o normal . Se fosse uma integração de contorno , eles teriam resolvido ; se fosse uma expansão de série simples , teriam resolvido também . Então eu entrava em cena e tentava a diferenciação na integral , e quase sempre funcionava . Por isso ganhei fama como solucionador de integrais , só porque minha caixa de ferramentas era diferente das de todos os demais , e eles já tinham tentado todas as suas ferramentas antes de me trazer o problema .

Tinham traçado a curva original quando o cabo principal foi instalado e mediam as diferenças progressivas observadas à medida que a ponte ia sendo suspensa por ele , com a curva tornando – se uma parábola . Era o tipo de coisa que eu gostaria de ser capaz de realizar . Eu admirava aqueles caras ; estava sempre ansiando o dia em que poderia trabalhar com eles .

Fui enviado a Chicago com instruções de visitar cada grupo , dizer que ia trabalhar com eles e fazê – los me contar tudo sobre um problema até que eu pudesse me sentar e começar a trabalhar nele . Assim que chegasse a esse ponto , devia procurar outro cara e perguntar sobre outro problema . Dessa forma , iria entendendo os detalhes de tudo .

O exército os selecionara em todo o país para uma coisa chamada Destacamento Especial de Engenharia — rapazes inteligentes do ensino médio com talento para a engenharia . Foram mandados para Los Alamos , instalados em casernas … E ninguém lhes disse nada . Então eles começaram a trabalhar , e o que tinham de fazer era trabalhar em máquinas IBM — perfurar cartões , com números que não conseguiam entender . Ninguém explicou o que aquilo era . Tudo andava muito devagar . Eu disse que a primeira coisa a fazer era falar para esses caras de formação técnica o que eles estavam fazendo . Oppenheimer foi lá , conversou com a segurança e conseguiu uma licença especial . Então pude dar uma boa palestra sobre o que estávamos fazendo , e todos ficaram animados : “ Estamos fazendo guerra ! Sabemos o que é isso ! ” Eles sabiam o que os números significavam . Se a pressão subia , queria dizer que mais energia estava sendo liberada , e coisas assim . Eles sabiam o que estavam fazendo . Transformação completa ! Eles começaram a inventar meios de aprimorar a operação . Melhoraram o esquema . Trabalhavam de noite . Não precisavam de supervisão à noite ; não precisavam de nada . Entendiam tudo , inventaram vários dos programas que usamos .

E Von Neumann me deu uma ideia interessante : você não é obrigado a se responsabilizar pelo mundo em que vive . Assim , desenvolvi um poderoso senso de irresponsabilidade social . Isso fez de mim um homem muito feliz desde então . Mas foi Von Neumann quem lançou a semente do que se tornaria a minha irresponsabilidade ativa !

Não sei mesmo o que faria se não fosse professor . Isso porque , tendo alguma coisa para fazer quando estou sem ideias e não vou chegar a lugar nenhum , posso dizer a mim mesmo : “ Pelo menos estou vivo , pelo menos estou fazendo alguma coisa , estou dando uma contribuição . ” É uma questão psicológica

Quando está dando aula , você pode pensar sobre coisas elementares que conhece muito bem . Essas coisas são uma espécie de entretenimento e prazer . Não faz mal nenhum pensar nelas mais uma vez . Será que existe uma maneira melhor de apresentá – las ? Haverá novos problemas ligados a elas ? É possível ter novas ideias em relação a elas ?

Gibbs gostava da maneira como eu me dirigia a ele , diretamente , sem dizer a mim mesmo : “ Ele é o chefe do departamento , eu sou novo aqui , melhor ter cuidado com o que digo . ” Não tenho tempo de pensar isso , minha reação é imediata , digo a primeira coisa que me vem à cabeça .

E pensei comigo mesmo : “ Claro , o que eles pensam sobre você é fantástico demais , é impossível corresponder a isso . Você não tem a obrigação de corresponder ! ” Foi uma ideia brilhante : você não tem a obrigação de corresponder àquilo que outras pessoas acham que você deve realizar . Não tenho a obrigação de ser como eles esperam que eu seja . O erro é deles , não meu .

— Vocês já ouviram falar do ângulo de Brewster ? — Sim , senhor ! O ângulo de Brewster é o ângulo em que a luz refletida de um meio com um índice de refração fica completamente polarizada . — E de que forma a luz é polarizada quando refletida ? — A luz é polarizada perpendicularmente ao plano de reflexão . Agora eu tive de pensar ; eles sabiam aquilo de cor e salteado ! Sabiam também que a tangente do ângulo é igual ao índice ! — E então ? — perguntei . Nada . Eles acabavam de dizer que a luz refletida de um meio com um índice , como a baía , era polarizada ; tinham dito ainda de que forma era polarizada . — Olhem para a baía lá fora , através do polaroide . Agora virem o polaroide — falei . — Ah , está polarizada ! — disseram eles . Depois de muito investigar , descobri que os alunos tinham memorizado tudo , mas não sabiam o que aquilo significava .

Eu não conseguia vislumbrar como eles iam aprender com aquele método , fosse qual fosse o conteúdo . Ali estava o professor , falando de momento de inércia , mas não havia discussão sobre como varia a dificuldade de abrir uma porta quando do outro lado dela se põe um peso mais perto ou mais longe das dobradiças — nada !

Outra coisa que nunca consegui que eles fizessem foi formular perguntas . Finalmente , um deles me explicou por quê : “ Se eu lhe fizer uma pergunta durante a aula , depois todo mundo vai me censurar : ‘ Por que você nos fez perder tempo na aula ? Estamos tentando aprender alguma coisa e você o interrompe com perguntas . ’ ”

Fiz então uma analogia com um estudioso de grego que ama a língua grega e sabe que em seu país não há muitas crianças estudando grego . Vai a outro país e fica feliz ao ver todo mundo estudando grego — até mesmo as criancinhas da escola primária . Ele vai assistir à prova de um aluno que está para se formar em grego e lhe pergunta : “ Quais eram as ideias de Sócrates sobre a relação entre o Verdadeiro e o Belo ? ” Mas o estudante não sabe a resposta . Então ele pergunta : “ O que Sócrates diz a Platão em O banquete ? ” O estudante se anima e pá – pá – pá — repete tim – tim por tim – tim , palavra por palavra , e em bom grego , o que Sócrates disse . Mas o que Sócrates discute em O banquete é a relação entre o Verdadeiro e o Belo !

Por fim , eu disse que não conseguia ver como alguém era capaz de se formar nesse sistema de automultiplicação , em que as pessoas são aprovadas em exames e ensinam outras pessoas a passar nos exames , mas ninguém sabe nada .

Hoje em dia , desde 1951 no Caltech , sinto – me muito feliz aqui . É o lugar perfeito para um cara tendencioso como eu . O Caltech tem um monte de pesquisadores de ponta , muito interessados no que estão fazendo , e com quem posso conversar . Então , tenho me sentido muito à vontade .

Quando você é jovem , tem um monte de coisas com que se preocupar — se deveria ir lá , como está sua mãe . Você fica preocupado , tenta decidir , mas aí acontece alguma outra coisa . É muito mais fácil simplesmente decidir . Aconteça o que acontecer , nada deve mudar uma decisão . Fiz isso uma vez quando estudava no MIT . Fiquei cansado de ter que decidir que tipo de sobremesa ia pedir no restaurante , então decidi que pediria sempre sorvete de chocolate , para nunca mais ter de pensar nisso — eu tinha a solução para o problema . Assim , decidi ficar para sempre no Caltech .

— É estranho que você não tenha aceitado nossa oferta para ir a Chicago . Ficamos muito decepcionados e não entendemos como foi que você pôde rejeitar uma proposta tão boa . — Foi fácil — falei — , porque em nenhum momento permiti que revelassem o valor da proposta . Uma semana depois , recebi uma carta dela . Abri – a e li a primeira frase : “ O salário oferecido era de — — . ” Era uma quantia absurda , três ou quatro vezes o que eu estava ganhando . Impressionante ! E a carta continuava : “ Falei no salário antes que você pudesse ler qualquer outra coisa . Talvez agora queira reconsiderar , porque me disseram que a vaga ainda está em aberto e gostaríamos muito de tê – lo conosco . ” Então respondi à carta : “ Depois de saber do salário , resolvi que preciso recusar . O motivo pelo qual decidi rejeitar um salário como esse é que com ele eu poderia fazer tudo o que sempre quis — ter uma amante maravilhosa , instalada num apartamento , comprar coisas legais para ela … Com o salário que vocês me oferecem , eu poderia mesmo fazer isso , e sei o que ia acontecer comigo . Ficaria preocupado com ela , com o que estaria fazendo ; teria brigas quando chegasse em casa e assim por diante . Toda essa preocupação poderia me fazer sentir mal e infeliz . Eu não conseguiria fazer física direito , e isso seria uma grande confusão ! O que eu sempre quis fazer seria ruim para mim , por isso decidi que não posso aceitar a proposta . ”

Em todos esses lugares , todas as pessoas da área da física queriam me contar o que estavam fazendo e discutir seus trabalhos . Eles me contavam em linhas gerais o problema em que estavam trabalhando e começavam a escrever um monte de equações . — Um momento — pedia eu . — Você tem um exemplo em particular para o problema geral ? — Sim , claro . — Ótimo . Qual é o exemplo ? Comigo é assim . Não consigo entender coisa alguma de modo geral se não tiver na cabeça um exemplo específico para ver como funciona . De início , algumas pessoas acham que sou lento e que não estou entendendo o problema , porque faço uma série de perguntas “ tolas ” : “ O cátodo é positivo ou negativo ? O ânion é assim ou assado ? ”

Telegdi era um excelente físico experimental e muito rigoroso . E certa vez , quando estava dando uma palestra , mencionou nossa teoria e disse : “ O problema com os teóricos é que nunca prestam atenção aos experimentos ! ”

A partir de então nunca mais dei atenção a qualquer coisa feita por “ especialistas ” . Faço todos os cálculos por minha conta .

Certa vez , um professor de uma faculdade pública municipal pediu que eu ministrasse uma palestra por cinquenta dólares . Respondi que não estava preocupado com o dinheiro . — É uma faculdade pública , certo ? — Sim . Pensei na papelada com que normalmente tinha de lidar em qualquer tratativa com o governo , então respondi , rindo : — Darei a palestra com prazer . Mas com uma condição — disse , e inventei um número qualquer e continuei . — Não quero ter de assinar o meu nome mais de treze vezes , e isso inclui o recibo ! O cara riu também . — Treze vezes ! Sem problema .

— Tudo bem , se precisam me dar o dinheiro , que me deem o dinheiro . — Mas o senhor precisa assinar o formulário . — Não vou assinar ! Eles ficaram embatucados . Não tinham onde pôr o dinheiro que eu fizera por merecer , mas eu me recusava a assinar para recebê – lo . Por fim , tudo se arranjou , e foi bem complicado . Mas usei a 13ª assinatura para o recibo .

O nome dele é Jirayr Zorthian : é um artista plástico . Tínhamos sempre longas discussões sobre arte e ciência . Eu dizia coisas como : “ Os artistas estão perdidos : não têm tema algum ! Antes , tinham temas religiosos , mas deixaram a religião e agora não têm nada . Eles não entendem o mundo técnico em que vivem ; nada sabem sobre a beleza do mundo real — o mundo científico — , e por isso não têm no coração nada para pintar . ” Jerry contestava , dizendo que os artistas não precisam de um tema físico ; há muitas emoções que podem ser expressas pela arte . Além disso , a arte pode ser abstrata . Já os cientistas destroem a beleza da natureza quando a dividem e transformam em equações matemáticas .

Eles estavam sempre me dizendo para “ relaxar ” , para não ficar tão ansioso ao desenhar . Achei o conselho tão sem sentido quanto dizer a alguém que está aprendendo a dirigir para “ relaxar ” ao volante . Não ia funcionar . Só depois que você sabe como se faz a coisa detalhe por detalhe é que começa a relaxar . Então eu resistia a essa história de “ relaxar ” .

Como cientista , você sempre pensa que sabe o que está fazendo , por isso tende a desconfiar do artista que diz “ É ótimo ” ou “ Não é bom ” sem dar as razões ,

compreendi afinal para que serve a arte , pelo menos em certos aspectos . Ela dá prazer a alguém , individualmente . Você pode fazer uma coisa de que alguém goste tanto a ponto de ficar deprimido , ou feliz , por conta dessa coisa que você fez ! Em ciência , a coisa é mais geral e ampla : você não conhece as pessoas que a apreciaram diretamente .

Havia muita gente idiota naquela conferência , idiotas cheios de pompa — e idiotas cheios de pompa me tiram do sério . Não há problema com os idiotas comuns , pode – se conversar com eles e tentar ajudá – los . Mas idiotas cheios de pompa — caras que são idiotas mas dissimulam essa condição e impressionam as pessoas com suas maravilhosas sacadas geniais — , esses eu não aguento !

a pergunta era “ Qual é o tamanho do nariz do imperador da China ? ” . Para determinar isso , você viaja por todo o país perguntando às pessoas qual elas acham que seja o tamanho do nariz do imperador , e tira uma média . E a resposta vai ser bem “ precisa ” , porque você consultou muita gente . Mas esse não é o modo de determinar uma coisa . Se você tiver um grande número de pessoas que opinam sem considerar atentamente a questão , não vai ser com uma média que vai melhorar seu conhecimento sobre a situação .

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