A dor humana, as vezes, não cabe na casa palavra.
Acredito, entretanto, que a palavra pode vir a ser um socorro à alma humana.
Refletindo, escrevemos. E escrevendo, vivemos e conseguimos conviver com a dor.
Por isso escrevo, com Sofia no coração.
De Sofia, lembro da felicidade.
Como carece para nós, adultos, sorrirmos. Como é dificil espiritualizarmos o cotidiano que nos cerca.
Quantas vezes, no grupo Monsenhor Bianchini, que refletia sobre o sentido da vida, ou discutia alguma pergunta “de gente grande e séria”, fomos surpreendidos com: “Já pode comer?”, da pequena. Só não recordo quem era o último a parar de rir.
Feliz quem convive com seres humanos que são a porta aberta para o riso!
Eis o sentido da vida: direcionar a vida para Deus com alegria, sorrisos e felicidade.
Afirmou Bento XVI: “Onde há tristeza, onde morre o humor, aí não está certamente o Espírito Santo, o Espírito de Jesus Cristo. A alegria é um sinal da graça”.
Reconhecer a felicidade em coisas miúdas. Um desafio enorme para quem não tem coração de criança.
E lembro: criança é o que está sendo criado. Quão bom é sentar-se para brincar com uma criança que não tem outra preocupação a não ser o momento presente, sem maiores obrigações.
Quem não gostou tanto das brincadeiras foi Gavião, o cachorro rottweiler de nosso amigo Tiagão. Pois a pequena, com 7 anos, usou-o como montaria. Coisas do mundo de Sofia!
De Sofia, penso sobre ter tempo de abrir-se ao outro.
Outra grande dificuldade do homem moderno: ter tempo para o outro.
Como podemos saber que novidades o outro pode nos trazer, se nunca vamos ao seu encontro? Nos é mais confortável eliminar aquele que não corresponde as nossas expectativas.
Sofia compreendia melhor quando entrava no mundo do outro, claro, da forma mais inusitada e simples possível.
Jesus, da mesma forma, entra no coração dos que se abrem a Ele. E assim encoraja as pessoas a se mostrar em sua mais sincera verdade. O baixinho Zaqueu, por exemplo.
Afinal, qual será a alegria de quem receberá os presentes doados por Sofia?
Diria o poeta em uma linda canção Eucarística entitulada ‘Canção para Cristo’: “Ir ao encontro dos outros é o segredo pra vencermos a nós mesmos”.
Com Sofia, imagino a eternidade.
Num sábado de sol, partiste.
Recordo o início de um poema do jornalista carioca Giusepe Chiaroni:
“Eu quero voltar pra casa, meu pai.
Quero voltar.
Depois de tanto girar,
Esqueci ou desconheço
O meu primeiro endereço
a luz do primeiro lar […]”
Voltaste a tua Casa, “Sosô”. Voltaste a teu Primeiro Lar.
Através da mesa Eucarística, poderemos estar mais perto de você a cada Celebração.
Para os que ficam, jamais esqueçamos que a vida pode ser mais simples, amiga e feliz, como ela. Eis a nossa missão até que Ele nos chame.
Ziraldo, finalizando a belíssima obra “O Menino Maluquinho” conclui o que há em meu coração (adaptado a Sofia):
“E foi então que toda a gente descobriu que ela não tinha sido uma ‘menina maluquinha’. Ela tinha sido uma menina feliz!”
Até um dia!